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Reter cérebros nos ambientes brasileiros de inovação, antes que seja muito tarde


Sem talentos qualificados não há como atender às complexas exigências do mercado e sociedade. E o Brasil está ficando —cada vez mais— para trás. No ranking The Global Talent Competitiveness Index(*1) (2020), que foi desenvolvido pela Insead, escola prestigiada de administração, o Brasil caiu mais posições: é o 80º entre as 132 nações analisadas.


É a constatação mais clara de que o Brasil não consegue criar, reter e nem atrair talentos. Os profissionais mais capacitados estão deixando o País em busca de melhores oportunidades. Entre os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é o último colocado.


Como impedir a fuga de nossos talentos? Essa diáspora, se mantida, comprometerá o desenvolvimento e o futuro do Brasil. A resposta está na promoção de ambientes de inovação agora!


Pior com a pandemia


As respostas do Governo Federal nas últimas e atual gestão agravaram este quadro de penúria, que podem ainda piorar com a pandemia. Falta de verbas, corte de bolsas e dependência de importação de equipamentos e insumos expõem a vulnerabilidade de um país que escolheu não investir em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), afirma artigo publicado no Deutsche Welle(*2).


Uma série de políticas públicas recentes interromperam um histórico de inovações e protagonismo científico, quando pesquisadores brasileiros em laboratórios nacionais lideraram uma série de avanços, como a descoberta da relação entre a zika e o aumento de casos de microcefalia. Talentos que saíram do País lamentam na reportagem os sucessivos cortes de apoio às universidades e instituições de pesquisa, e que atingiram agora o seu ápice.


Ambientes de inovação, o caminho a seguir


A geração de riquezas só tem um caminho: a inovação. E a inovação sustentável e contínua só acontece por meio de capital humano interagindo e da articulação entre empresas, universidades e governo em práticas colaborativas. A teoria da Tríplice Hélice, desenvolvida por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, baseia-se nesses três atores: na universidade como promotora do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, gerando transferência de tecnologia e spin-off; nas empresas, ao empreenderem modelos de negócios derivados dessas transferências tecnológicas; e no governo, como fomentador dessas ações inovadoras e regulador das políticas públicas.


É nesse ambiente, também chamado de habitat de inovação, que há uma troca efetiva de experiências para proporcionar a transformação de grandes ideias em empreendimentos de sucesso. O exemplo mais conhecido desse ambiente de inovação é o Vale do Silício (EUA), que abriga os headquarters de algumas das maiores empresas da atualidade, como Amazon, Google e Uber.


São José dos Campos e o Parque Tecnológico


Poucos são ainda os ecossistemas de inovação no País. Entre eles, um dos principais hubs é São José dos Campos (SJC), no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo. Movida a tecnologia e qualidade de vida, SJC é a 6ª colocada entre as cidades mais favoráveis para o empreendedorismo no Índice de Cidades Empreendedoras 2020; e é a 5ª colocada entre as 100 melhores cidades para se viver no Brasil, de acordo com a consultoria Macroplan (2020).


A vocação tecnológica de SJC, que tomou impulso em 1950 com a criação do Centro Técnico Aeroespacial, hoje está consolidada por ser a sede do Parque Tecnológico de São José dos Campos (PqTec), o maior centro brasileiro de empreendedorismo e inovação. Ambiente de inovação por excelência, o Parque Tecnológico é a expressão concreta da Tríplice Hélice, reunindo uma parceria produtiva grandes empresas, universidades e governo.


Distrito de inovação, ambiente de inovação para reter cérebros


O momento impõe ambientes de inovação com diversidade urbana como referência para uma nova dinâmica social: “o lugar que faz sentido ir”. Um ambiente de inovação como um espaço físico somente está completo se as pessoas encontram oferta de serviços planejados para o bem-estar e congruência cultural (identificação e valores compartilhados). Regiões que integram centros de inovação devem constituir moradia, varejo, áreas de lazer e serviços urbanos. Mobilidade, qualidade de vida, relacionamentos sociais e equilíbrio ambiental são atrativos para criar os distritos de inovação para assentar essas pessoas e seus familiares promovendo troca de conhecimento.


O distrito de inovação existe e está sendo consolidado em São José dos Campos com a implementação neste ano da Cidade Tecnológica, a fase de expansão urbana do Parque Tecnológico, com espaços para manufatura tecnológica, empresas, serviços, residências, lazer, comércio, restaurantes e parques.


A INNOVACT e os ambientes de inovação


Falo agora da minha experiência profissional e do meu envolvimento com São José dos Campos, quando a Prefeitura Municipal decide instalar um parque tecnológico em parte das terras de um projeto imobiliário, que estava sob minha coordenação. Nesse momento, surgiram os primeiros insights para uma proposta urbana ampliada ancorada num Parque Tecnológico e o projeto da INNOVACT.


Iniciei uma investigação aprofundada para entender as bases que levam um ambiente de inovação a evoluir para um distrito de inovação. Fiz inúmeras imersões em experiências internacionais, inclusive contatos com o Prof. Henry Etzkowitz, em Palo Alto, Califórnia, que é um dos criadores da Triple Helix (Tríplice Hélice).


Hoje, a Innovact participa e colabora ativamente com o Parque Tecnológico de São José dos Campos (PqTec) e seus stakeholders para a estratégia na sua constituição como distrito de inovação. O Brasil precisa desses espaços urbanos transformadores onde ideias e negócios surgem todos os dias, um lugar projetado para o compartilhamento de saberes, conectados com redes locais e globais, com senso de comunidade e identidade, em que vida, lazer e trabalho possam promover o desenvolvimento e a produção do conhecimento. Essa é uma condição para reter nossos cérebros.


Cesar Mello





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